A queda nos preços do leite pago ao produtor vem trazendo preocupação tanto para os pequenos produtores familiares quanto para os grandes. Em Pinhalzinho, a família Zanatta se dedica ao setor há mais de 30 anos e possui 120 animais em lactação, com produção mensal média de 175 mil litros. Eles já sentem a crise que o setor leiteiro enfrenta.
Conforme o produtor Willian Zanatta, os preços do leite sempre apresentaram variações ao longo dos anos, mas o que vem chamando atenção recentemente é a intensidade dessas oscilações. Tradicionalmente, o inverno era um período de melhores preços e também de maior produção, o que contribuía para o equilíbrio do fluxo de caixa das fazendas.
“O produtor sempre esteve acostumado com variações no preço, mas o que não poderia acontecer é chegar a um valor tão baixo como agora e como também ocorreu em 2023. Seria necessário um preço mínimo em momentos de crise, que ainda viabilize a atividade, visto que os custos fixos existem independentemente do valor recebido pelo leite. Isso proporcionaria maior segurança à atividade, já que temos visto cada vez mais produtores saindo do setor, justamente por ser um trabalho difícil, sem folga ou férias, e que necessita de constantes investimentos para se manter produzindo.”
Além da queda nos preços, o custo de produção para se obter um produto de qualidade é alto. O produtor destaca que a cadeia leiteira vem percebendo que a qualidade do leite não se resume apenas a entregar um produto seguro, saudável e livre de contaminantes como exige o mercado , mas também depende diretamente da saúde dos animais. Animais saudáveis produzem mais, e para isso são necessários investimentos contínuos em bem-estar, alimentação e manejo.

Na última sexta-feira (24), ocorreu em Chapecó, a reunião do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite (Conseleite) resultou, por unanimidade, na decisão de elaborar dois documentos que serão encaminhados aos governos estadual e federal, com solicitações de medidas emergenciais, reforçando a urgência por ações concretas que possam conter as perdas e estabilizar o setor.
O presidente do Conseleite e do Sindileite, Selvino Giesel, destacou os desafios operacionais enfrentados pelas indústrias para armazenar os produtos lácteos. “Alguns itens têm validade de até um ano e meio, como o leite em pó, mas outros, como iogurte, queijo, leite UHT e requeijão, vencem rapidamente e exigem refrigeração permanente. Se não forem vendidos a tempo, são descartados. Estamos entrando em um período do ano em que, historicamente, o consumo de lácteos cai e, com as importações em alta, a situação tende a se agravar.”
Embora as entidades percebam sinais evidentes de prejuízos, o setor ainda busca soluções antes que os impactos se tornem irreversíveis. Conforme Giesel, algumas propriedades operam com perdas de até R$ 0,15 por litro, e indústrias enfrentam sérias dificuldades de comercialização, com o risco de pequenas empresas fecharem as portas. Para reivindicar medidas que superem esses desafios, as entidades, com o apoio dos produtores rurais e das indústrias, devem elaborar dois documentos estratégicos.
AUDITORIAS
O primeiro será encaminhado ao governo federal, com pedidos como a continuidade das auditorias da CNA sobre os preços e origens do leite importado, a criação de estoques reguladores e o uso do leite em programas sociais e de merenda escolar. O segundo documento será destinado ao governo estadual e incluirá pleitos como o reforço das inspeções sanitárias, a equalização tributária e, principalmente, o apoio à compra de produtos lácteos catarinenses.
“Isso ajudaria a retirar o excedente do mercado e a aliviar a pressão sobre o setor. É uma ação simples, mas de grande impacto para estabilizar o ambiente. Queremos justiça na remuneração. Santa Catarina subiu da oitava para a quarta posição entre os maiores produtores de leite do país, graças, em grande parte, aos nossos pequenos e médios produtores. Eles são eficientes e não podem ser forçados a abandonar a atividade por falta de rentabilidade. É sempre delicado, mas já superamos outras fases difíceis. Esta também vai passar, mas precisamos agir agora”, concluiu Pedrozo.
PROIBIÇÃO
O presidente da FAESC apoiou a iniciativa do deputado Altair Silva (PP) que apresentou o projeto de lei 768/2025 que proíbe a reconstituição do leite em pó importado para venda como leite fluido no Estado. A proposta, que está em tramitação na Assembleia Legislativa, prevê sanções e multa em caso de descumprimento. A medida seria aplicada a pessoas jurídicas e, entre as penalidades, estão a apreensão do lote do produto, a aplicação de multa de até R$ 1 milhão e a suspensão temporária ou definitiva do registro sanitário. Pedrozo lembra que a prática de reidratar leite em pó importado para comercializar como leite fluido tem causado sérios prejuízos aos produtores rurais e pequenas agroindústrias, desequilibrando o mercado e comprometendo a renda no campo.
O texto determina que o valor da multa será graduado conforme a gravidade da infração, a reincidência e a capacidade econômica do infrator. A fiscalização e o monitoramento do cumprimento da regra ficarão sob responsabilidade dos órgãos estaduais de defesa sanitária animal e de vigilância sanitária. Os valores arrecadados serão destinados ao Fundo Estadual de Desenvolvimento Rural (FDR), para investimento em projetos de apoio à cadeia produtiva do leite e à agricultura familiar.
O deputado Altair Silva coordenará a realização de audiência pública no dia 12 de novembro, na Assembleia Legislativa, que vai debater a crise enfrentada pelo setor, reunindo produtores, cooperativas, indústrias, especialistas e representantes de órgãos governamentais para discutir alternativas e medidas de apoio à atividade.








